Localizado na zona sudoeste da cidade de Lobito de costas para o mar e para a Rua do Brasil, o Cine-esplanada Flamingo (1963) implanta-se num terreno com uma ligeira pendente sobre os mangais.
Desenha um recinto murado rectangular de 95 metros de comprimento, por 75 metros de largura, aberto para as salinas onde se encontravam flamingos que deram nome ao cinema, e para o quadrante sudeste captando as brisas nocturnas orienta-se o conjunto composto por uma “sala” de cinema, dois bares com esplanada, e zonas ajardinadas.
Francisco Castro Rodrigues (1920-2015) desenha uma tipologia determinada pelas condições climáticas, que se assume como uma estrutura sombreada que estimula os movimentos do ar, definindo a sua identidade no confronto com a natureza.
Inaugurado a 31 de Outubro de 1963 foi projectado para 1200 espectadores, resultado de uma encomenda do presidente do Cine-Clube do Lobito, o engenheiro António Vieira da Silva, que se associou a distribuidora Doperfilme para construir e gerir o cinema.
Projecto de iniciativa privada, tal como a maioria dos edifícios culturais associados à ideia de lazer, sem condicionantes restritivas de linguagem impostas pela política cultural do Estado Novo, permitindo uma abertura à modernidade no desenho do projecto, e à tradução da vontade de uma sociedade aberta que queria ser urgentemente moderna.
O programa responde às necessidades de lazer da sociedade colonial dos anos 50, um programa funcional e tipológico que representa a atmosfera de bem-estar e progresso que se fez sentir entre a burguesia urbana das colónias portuguesas antes da guerra colonial, aliando o aperfeiçoamento técnico e formal às condicionantes climáticas e geográficas na procura de uma arquitectura tropical.
Explorando as novas possibilidades do betão, Francisco Castro Rodrigues alcança a inovação estrutural juntamente com a liberdade formal que foi possível graças ao projecto do engenheiro Fernando Falcão, com quem usualmente trabalhava, enriquecido com o contributo do especialista em estruturas ferroviárias, engenheiro Bernardino Machado, que calculou a estrutura da cobertura.
A cobertura desenhada por uma estrutura de betão aparente em “V” com 16 m de vão, e tensionada por cabos metálicos, em conjunto com a enorme parede écran, representa os principais elementos do edifício.
A entrada, marcada por uma pala de menor dimensão e pelo letreiro “FLAMINGO”, é realizada no lado noroeste através de um rasgo, segundo o eixo central da plateia, no muro que limita o recinto, e composta por duas paredes contrastantes, que correspondem a dependências interiores funcionalmente distintas:
Do lado direito uma parede ziguezague de arestas vivas que limita o bar nocturno;
Do lado esquerdo uma parede ondulante e contínua que acolhe o bar esplanada.
O edifício da cabina de projecção é desenhado levantado do solo, ligado às áreas de circulação através de rampas, e marcado por painéis decorativos em marmorite policromada, tal como a fachada principal e os pavimentos, desenhados pelo seu autor que defendia a síntese das artes e a ideia de obra global.
O Cine-esplanada Flamingo está hoje abandonado e em degradação, sendo utilizada como uma escola primária informal.
Tostões, Ana; Arnaut, Daniela
(projeto EWV, FCT ref.ª PTDC/AUR-AQI/103229/2008)
Alojamento