Escola Superior de Gestão Hoteleira de Benguela

Escola Superior de Gestão Hoteleira de Benguela

Fotos: www.luanda-nightlife.com
Fotos: www.luanda-nightlife.com

Uma academia angolana com os mesmos programas internacionalmente acreditados que a Ecole Hôtelière de Lausanne (EHL), considerada universalmente como a melhor escola de hospitalidade no mundo, está agora ao alcance de estudantes com qualquer bolso. Bem-vindos à Escola Superior de Gestão Hoteleira de Benguela. 

Há dez minutos do limpo e elegante Aeroporto Internacional de Catumbela (quando aterramos tinha luz eléctrica, o que nem sempre tem sido o caso), na estrada a caminho de Benguela, foi erguido um imponente e arrojado edifício de vidro em frente ao Estádio Nacional do Ombaka. Parece um diamante no meio das terras áridas da província.

Na altura em que um artigo da CNN nomeava Angola como um dos dez melhores destinos turísticos do futuro, a Escola Superior de Gestão Hoteleira de Benguela abriu as suas portas. A  Escola não pertence ao Ministério de Hotelaria e Turismo, mas vê o mesmo como um parceiro. 37 estudantes angolanos com idades entre os 18 e 35 anos estão ali a construir brilhantes futuros. Alguns já têm anos de experiência na indústria hoteleira, outros nem por isso. Foram selecionados por representantes da melhor escola hoteleira do mundo, a Escola de Hotelaria de Lausanne (EHL), na Suiça.

Não são filhos de gente rica. Geralmente provenientes de origens humildes, foram selecionados de um leque de mais de 500 aplicações pelo seu mérito, talento e ambição. O custo das refeições, do alojamento e do curso de quatro anos que agora iniciaram são pagos pelo Fundo Soberano de Angola.

Enquanto que o diploma de uma universidade angolana tem pouco peso fora das fronteiras do país, o diploma que estes estudantes receberão daqui a quatro anos vai ser globalmente reconhecido como qualquer diploma do EHL. Para estes jovens, as perspectivas de emprego tanto dentro como fora do país são mais alargadas.

O Enorme Potencial Turístico de Angola

O LNL entrevistou o Docente da Escola Superior de Gestão Hoteleira de Benguela, o Sr. Maurice Garde, nas instalações da Escola em Benguela.

“A indústria turística de Angola neste momento é primariamente interna”, observa. “O turismo internacional ainda é practicamente inexistente em Angola. Custos altos, falta de infraestrutura, problemas de vistos e as percepções sobre o país após a guerra civil atrasam a indústria.

“Mas o potencial para o turismo é enorme. Olhe para o que mesmo apenas Benguela tem para oferecer. Os animais estão aqui, as praias estão aqui, os hotéis estão aqui. O potencial para safaris é vasto. Angola faz parte da Reserva Trans Kalahari, a maior reserva de caça no mundo, que vai de Angola até a África do Sul. Acho que o governo angolano está a trabalhar para abrir o país ao mundo como destino turístico. Temos de estar preparados para elevar a indústria turística ao próximo nível.”

É por isso que esta Escola Superior está aqui, explica Garde. “Estes estudantes vão receber um diploma universitário de nível Europeu, que é tão reconhecido internacionalmente como o diploma de Lausanne. Estamos a falar do melhor diploma de hospitalidade no mundo.

Para além disso, nós temos que cumprir os requisitos de Angola. Vai efectivamente ser um diploma duplo, com certificação e acreditação angolana e europeia.:

“A beleza deste diploma é que enquanto o mesmo é suiço, temos aqui a oportunidade o modificar e dá-lo um sabor africano. Por exemplo, quero introduzir alguns programas de gestão de reserva de caça e também programas de gestão de lodges e safaris. Os estudantes farão os seus dois estágios de três meses num contexto africano, se assim desejarem. Podemos enviar estudantes para África do Sul, Botswana, Sri Lanka mas também Suiça. À medida que continuamos a construir as nossas relações internacionais, iremos enviar os nossos alunos para lá.”

LNL: Estão a treinar estes estudantes para trabalhar em Angola ou na região (África)?

Maurice Garde: O nosso principal foco é e sempre será a criação de capacidade em Angola. Agora também estamos a receber interesse de outros países africanos e de países longínquos como o Sri Lanka para a criação de capacidade nestes lugares. Mas temos de aprender a andar antes de começarmos a correr. A medida que crescemos e nos desenvolvemos, vamos nos expandir pelo continente africano. Para esta Escola Superior ser um sucesso, também teremos de recrutar estudantes internacionais.

Porquê?

Porque depois do seu primeiro ano, a Escola Superior tem de ser uma entidade auto-sustentável. O Fundo Soberano só nos vai apoiar durante o primeiro ano. Custearam as propinas, alimentação e alojamento de todos os alunos que entraram agora para os próximos quatro anos.

A partir do segundo ano, a Escola será uma entidade economicamente viável e auto-suficiente. Então teremos de enfrentar os desafios como qualquer outra instituição e ir à busca de patrocínio, bolsas, subvenções, e parceiros financeiros para apoiar os nossos estudantes.

Senão, teríamos de cobrar propinas exorbitantes, e não queremos que esta Escola se torna uma universidade para a elite do continente africano. Os nossos alunos são de todos os espectros demográficos e financeiros. Temos sempre de ter isso em mente.

Será que a crise económica que assola o país afecta este projecto?

Creio que está, e creio que vai continuar a nos afectar. Nos afecta principalmente no que toca ao custo da construção deste campus. A última coisa que queremos que sofra com esta crise será a qualidade e o padrão do nosso ensino. Se reduzirmos este padrão, o diploma perderia valor e derrota o propósito da Escola. Se fossemos a prescindir de algo, seria talvez menos um bloco de alojamento.

Como ainda não existe turismo internacional digno de realce em Angola, um risco concreto é que os alunos da Escola Superior de Gestão Hoteleira deixarão o país assim que conseguirem os seus diplomas. O que acha desta possibilidade?

Lembre-se que os nossos primeiros alunos vão concluir os seus cursos daqui a cinco anos, em 2021-2022. Será nesta altura que os nossos primeiros quadros estarão formados. Espero que até 2022 o sector turístico de Angola será suficientemente maduro para acolher estes alunos como líderes da indústria

Se estes estudantes decidirem trabalhar fora, isso — e aqui faço-me de advogado do diabo — não é necessariamente algo mau. Se alguém for para Dubai trabalhar num hotel de cinco estrelas durante alguns anos e depois volta para Angola com este conhecimento, perfeito. Se desaparecerem por lá, então já seria um problema.

Como é que esta internacionalização pode ser benéfica para Angola?

Se olhar para o Reino Unido, a educação é uma das suas maiores exportações em termos de renda. Quando se trazem estudantes internacionais para Benguela, eles terão de viver em Benguela e gastarão dezenas de milhares de dólares em despesas de viagens, alojamento, e pessoais.

Geram-se recursos adicionais para o mercado local. Também há perspectivas de marketing pelo meio. Quando um aluno de Joanesburgo diz que “Eu fiz a minha formação superior em Angola,” estamos  a vender a imagem do país internacionalmente.

Como se tornou Docente da primeira academia internacional de hotelaria em Angola?

Antes disso era responsável por uma universidade do Reino Unido nas Ilhas Maurícias, e antes disso montei uma universidade nacional de pesquisa científica durante sete anos em parceria com o governo de Botsuana. A razão principal que estou aqui é a minha experiência com o modelo educacional europeu. Não há muita experiência em Angola no que toca a gestão eficaz do ensino superior europeu.

Como é que lida com o défice educacional que existe entre Angola e Suiça?

Alunos que terminam o secundário em Angola ou na maioria dos sistemas educacionais do continente tipicamente não entram logo no primeiro ano de um curso académico superior na Europa ocidental, então focamo-nos primeiro em criar a necessária base.

O grosso do nosso programa académico é ensinado em inglês. Para começar, os alunos completam um a três semestres de treino intensivo de inglês, consoante as suas necessidades individuais. Matemática, TICs, desenvolvimento pessoal e habilidades de estudo também fazem parte da fundação do curso.

Ensinamos aos nossos alunos o que é necessário para completar este curso. Hoje em dia é modelo de ensino comum no continente africano. Os nossos estudantes farão os mesmos exames no seu segundo ano aqui que os estudantes na Suiça, por isso não estamos a condenar os nossos alunos ao fracasso.

Imagino que também existem muitas lacunas de conhecimento dentro da existente indústria hoteleira a nível nacional?

Sim, por exemplo, em termos de marketing e promoção, uso de redes sociais, e no uso de ferramentas como o booking.com e o hotels.com. A presença online de hotéis e restaurantes em Angola ainda é débil. É por isso que estamos a desenvolver programas de certificados e diplomas nesse campo.

Será que todos os professores da Escola Superior de Benguela são da EHL na Suiça, ou existe uma mistura de nacionalidades?

Dos nossos professores de inglês, dois são suiços e um é angolano. O professor de TICs é do Botsuana, o professor de matemática é luso-angolano e o professor de hotelaria é angolano.

Alcançaremos o requerimento governamental de 70% de força laboral angolana com facilidade. O meu objectivo principal é criar capacidade académica nacional interna trazendo para cá professores internacionais por dois ou três anos em base contínua que treinem os seus colegas angolanos. Nenhum país tem todos os conhecimentos para ensinar tudo. Até mesmo algumas das mais prestigiadas universidades americanas têm corpos docentes em que cerca de 25% são peritos estrangeiros.

O LNL falou também com alguns alunos da escola. Eis o que disseram.

Marcela Lopes (20) é de Luanda. “Esta é a minha primeira vez fora de Luanda. Tenho muitas saudades da minha família. Às vezes choro, mas fiz muitos amigos cá na Escola que apoiam-me. Vale tudo a pena, porque não é todos os dias que se encontra uma oportunidade destas. A Escola está em primeiro lugar, é o que a minha família tem sempre dito. O meu sonho é erguer o meu próprio hotel. Adoro a cultura de trabalho na indústria hoteleira. Adoro receber pessoas de outros países, com outras culturas, que falam outras línguas.

 

 

 


Ladislau Gonçalves (23) é de Luanda. “A Escola de Gestão Hoteleira é uma oportunidade de ouro para mim. É muito importante que o nosso país desenvolva a sua indústria de turismo, já que temos tantos recursos. O meu sonho é um dia ser proprietário do meu próprio restaurante, primeiro fora de Angola para ganhar experiência. Depois quero regressar ao país e ajudar a desenvolvê-lo.

 

 

 

 


Gabriel Cabinda (28) é originalmente da província de Kwanza Sul. Fugiu para Luanda durante a guerra civil, quando tinha 5 anos. “Trabalhai no Hotel Skyna em Luanda durante cinco anos, então já tenho bastante experiência. Já fui pedreiro para poder pagar os meus estudos, mas o meu sonho sempre foi trabalhar num hotel. Um dia entrei no Skyna, entreguei o meu CV e pedi emprego. Comecei como porteiro. Graças ao meu emprenho e ambição rapidamente cheguei a recepcionista e gerente da recepção. No Skyna, aprendi que a minha personalidade é mesmo de hoteleiro. Vim à Escola Superior para aprofundar o meu conhecimento e para impulsionar ainda mais a minha carreira.

O meu sonho é ser gerente de hotel em Angola. Benguela seria bom. É uma província muito bonita com várias atrações turísticas, restaurantes e praias.

Adoraria poder melhorar e desenvolver a indústria hoteleira de Angola. A Escola Superior de Gestão Hoteleira tem um grande papel nesse desenvolvimento graças a qualidade do ensino que recebemos aqui. O país não tem outra escola superior como esta, com professores estrangeiros. Angola é um país lindo mas falta-nos a criatividade e capacidade para desenvolver o nosso potencial turístico.”

 

Será que a indústria de turismo angolana está pronta para esta Escola? Existe o argumento de que a escola veio antes do seu tempo, e que os estudantes de outros países africanos podem ter dificuldades com os elevados custos de vida em Angola. Parece ser, no entanto, um bom começo para a capacitação de uma geração futura.


Escola Superior de Gestão Hoteleira Benguela

info@chmb.co.ao
Benguela Development SA
Estrada da Graça 100
Benguela – República de Angola

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